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sexta-feira, 13 de abril de 2012


MP do Rio acusa Ibama de ser “leviano” por liberar hidrelétrica de Simplício.

O silêncio que corta a BR-393, na altura do km 143, contrasta com o “barulho” que tem causado uma obra de grande envergadura no local. Sucessivas decisões judiciais impedem que entre em operação a usina hidrelétrica de Simplício, no pacato vilarejo de Anta, distrito de Sapucaia, a 145 quilômetros do Rio de Janeiro. O enchimento da barragem de reservatório do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) de Simplício, nome oficial do empreendimento, foi adiado, no final de fevereiro, devido à ação conjunta entre os Ministérios Públicos Estadual e Federal.

A obra não é vista por quem passa pela rodovia. A barragem de mais de cem metros de comprimento, que corta o rio Paraíba do Sul, só pode ser observada por inteiro do alto de uma ponte ferroviária desativada. O AHE conta com uma barragem de concreto, um vertedouro e um conjunto de canais, túneis, diques e reservatórios que desvia parte do curso do rio por 30 quilômetros, entre o Reservatório de Anta e a Usina de Simplício. As duas casas de força, Anta e Simplício, têm capacidade de geração de 28 MW e 303,7 MW, respectivamente, energia suficiente para abastecer uma cidade de 800 mil habitantes.

A grandiosidade do empreendimento está expressa em números. Os 93.962 metros cúbicos de concreto utilizados na construção são suficientes para erguer três Maracanãs. Já as 78 mil toneladas de aço empregadas no AHE Simplício correspondem a uma vez e meia a quantidade utilizada na Ponte Rio-Niterói. De escavação, serão 12,8 milhões de metros cúbicos em solo e 4,6 milhões de metros cúbicos em rocha.
As obras do AHE Simplício geraram, em seu pico, 4,8 mil empregos diretos. Desde o início, em 2007, o projeto já rendeu aproximadamente R$ 32 milhões em Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) aos quatro municípios abrangidos pelo empreendimento: Sapucaia e Três Rios (RJ) e Além Paraíba e Chiador (MG).

Sistema de esgoto inacabado
Números tão eloquentes, no entanto, não sensibilizam o Ministério Público do Rio. Por determinação do Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios, a empresa Furnas Centrais Elétricas, responsável pelo complexo, não pode nem iniciar a fase de testes da hidrelétrica, mesmo tendo obtido a Licença de Operação junto ao Ibama. Segundo informa o MP do Rio, entre outros problemas, a empresa não teria concluído as obras de implantação do sistema de coleta e tratamento de esgoto do distrito. Esta era uma das contrapartidas exigidas pelo Ibama.

A reportagem do iG esteve no local da obra. Cerca de trinta operários trabalham na construção de uma estação de tratamento de esgoto, mas é possível notar que várias manilhas ainda precisam ser colocadas por debaixo das ruas para fazer as ligações pendentes. Para a promotora de Justiça Anaíza Helena Malhardes Miranda, titular da 1ª Promotoria de Justiça de tutela Coletiva do Núcleo Teresópolis, são grandes os prejuízos ao meio ambiente, à população e à economia local. “O enchimento do lago sem as obras de cunho sanitário trará danos irreversíveis à saúde dos habitantes. Em 2010, ajuizamos a ação para assegurar medidas de prevenção em favor da população e do meio ambiente local. A operação seria iniciada sem a conclusão das obras de modernização da estação de tratamento de água e da construção da estação de tratamento de esgoto, além da instalação das redes coletoras”, diz a promotora. Mas a questão do saneamento básico não é a única e maior preocupação da promotoria.

Fonte: Ig