Descarte de roupas vira
caso de polícia em Além Paraíba.
O setor de
investigações da delegacia de polícia de Além Paraíba está buscando descobrir
os responsáveis pelo despejo de centenas de peças de roupas, possivelmente
destinadas aos desabrigados pelas enchentes de janeiro, encontradas ao longo da
Estrada João Bouhid, em Vila Caxias. No local não foi possível identificar a
origem das peças de vestuário, algumas ainda na embalagem e outras em bom
estado, mas todo o material foi recolhido e levado para a sede da delegacia,
onde foi elaborado um inventário que já está anexado ao inquérito policial que
buscará identificar sua origem.
Os moradores do bairro não deram pistas dos autores do despejo, mas presumiram que possa se tratar de material doado por pessoas de todo o Brasil, diante dos apelos de socorro aos afligidos pela maior enchente ocorrida na cidade, no dia 9 de janeiro. A desconfiança é que se trate de material estocado no depósito da Defesa Civil levou o responsável pelo órgão a emitir nota esclarecendo que descarta qualquer possibilidade do material ter saído de seus depósitos e que mantém o controle de tudo que entrou e saiu em seu banco de dados, creditando os comentários insidiosos a uma tentativa de desgastar o órgão e a administração municipal. Antônio da Cunha Coelho, o Cabo Coelho, classificou o ato como criminoso e disse que a Coordenadoria Municipal da Defesa Civil é apenas foi um dos muitos pólos montados para receber as doações e que o assunto deve ser tratado com prudência, evitando assim, cometimento de injustiça contra pessoas de bem e o órgão.
Um ano depois, doações vão para brechós.
As denúncias de desvios de alimentos, roupas e colchões alimentaram as
conversas por muitos dias, em Além Paraíba, mas o caso das roupas encontradas
na estrada que vai para o Gauchão foi a única prova de que as doações não estão
sendo controladas. O inquérito policial buscará encontrar os responsáveis pelo
ato vergonhoso, mas uma vez identificados, restará ainda encontrar a
fundamentação para a denúncia ao Ministério Público já que não há registro de
furto desse material e o caso pode virar apenas um crime de esfera
administrativa, por se tratar de despejo de lixo em logradouro.
Além Paraíba experimenta o que as cidades serranas passaram desde o 12 de
janeiro de 2011. Milhares de toneladas de alimentos, água mineral, roupas,
medicamentos e móveis foram a soma da solidariedade dos brasileiros e
estrangeiros que acudiram aos desabrigados daquela tragédia natural. Centenas
de postos de coleta se espalharam no intuito de minimizar as carências da
população, mas ao longo do tempo o que se viu foram desvios e o uso político
dos donativos. Exemplo disso ocorreu em Teresópolis e Petrópolis, onde a
polícia flagrou e prendeu pessoas responsáveis pela guarda do material doado
comercializando ou destinando parte do estoque para uso próprio. De sabonetes
até colchões, tudo ganhou valor e logo os camelôs da capital vendiam do leite
em caixinhas ao kit de cesta básica por preços reduzidos.
Em São José do Vale do Rio Preto os desvios flagrados pela reportagem e
apresentados aos gestores municipais foram classificados como sendo normais,
diante da enormidade de doações adquiridas. Um ano depois, roupas de marca,
móveis, geladeiras, fogões e calçados novos podem ser adquiridos nos brechós
montados em casas de pessoas que trabalharam como voluntárias nos depósitos. A
população ainda questiona o paradeiro de mais de uma centena de colchões doados
pela indústria Gazin, descarregados de uma carreta decorada pelo garoto
propaganda da empresa, o cantor Daniel, que na época, através de seu agente,
negou qualquer ligação direta com a distribuição e na Gazin, a informação dava
como sendo o quartel dos bombeiros a entrega de 120 colchões. A carreta foi
escoltada desde o Rio de Janeiro por 5 batedores da Policia Militar. São José
do Vale do Rio Preto não tem quartel do Corpo de Bombeiros.
Fonte: Folha Popular
foto: Agora Jornais Associados